A deficiência primária de lactase, ou hipolactasia adquirida, ou lactase não persistente (vamos referir-nos a ela como LNP), tem uma determinação genética e é uma condição normal e maioritária em humanos (70% da população mundial). Esta condição, ancestral dos seres humanos e de todos os mamíferos, é caracterizada pela regulação decrescente da atividade da lactase, que ocorre logo após o desmame na maioria das etnias. A prevalência de LNP e a idade em que ela se manifesta varia notavelmente de uma etnia para outra:
· Etnias com prevalência nula de LNP <10% (Europa do Norte): não há diminuição da atividade da lactase.
· Etnias com baixa prevalência de LNP 10-50% (Europa Central, Mediterrâneo): a diminuição da atividade da lactase começa na adolescência.
· Etnias com alta prevalência de LNP > 70% (asiáticos, árabes, africanos, afro-americanos, indios e americanos): a diminuição da atividade da lactase começa aos 4-5 anos de idade.
Nas pessoas com LNP, a lactose não digerida chega ao cólon e é aí onde as bactérias intestinais – a microbiota do lúmen do cólon – a consomem e geram resíduos como hidrogénio (H2), dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e ácidos de cadeia curta como ácido lático, ácido acético, pirúvico e butírico. Essa má digestão da lactose pode causar sintomas de intolerância, como dor abdominal, distensão abdominal, flatulência e diarreia.
O médico especialista em gastroenterologia tem ao seu dispor uma série de testes que permitem avaliar a LNP (teste genético, biópsia do intestino delgado) e a má digestão (teste de hidrogênio, teste de tolerância à glicose, teste d-xilose). Mas o diagnóstico final de intolerância à lactose (IL) só pode ser feito pelo médico especialista, que também acompanha a observação dos sintomas detetados pelo paciente, como diarreia, inchaço, flatulência, etc. Portanto, um paciente nunca deve realizar esses testes – sem receita médica nem acompanhamento médico – pensando que qualquer um deles é suficiente para diagnosticar a sua IL, pois poderia obter um autodiagnóstico errado.
Estima-se que mais de 50% dos celíacos apresentam intolerância à lactose secundária na sua fase inicial antes do diagnóstico. A enzima lactase é uma das primeiras enzimas que desaparecem das vilosidades intestinais quando são danificadas por alguma causa prévia, como o caso da doença celíaca. Quando o celíaco já está diagnosticado e inicia uma dieta isenta de glúten rigorosa, consegue recuperar as suas vilosidades – e também a enzima lactase -, de modo que, numa grande percentagem dos casos, os celíacos deixam de ter intolerância à lactose à medida que recuperam as suas vilosidades e enzimas digestivas.
Materiais para consulta
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Mais informação em:
Pode também consultar o artigo Teor de lactose no leite e derivados, da autoria da nutricionista Sara Almeida Silva, publicado na rubrica Nutricionista APC, da Revista Sem Glúten n.º 49.